Veja um resumo e análise da obra.
Clarice Lispector nasceu na cidade de Tchetchelnik, na Ucrânia, em 10 de dezembro de 1920. Veio para o Brasil recém-nascida, e sua família se estabeleceu em Maceió (AL) e depois no Recife (PE). Em 1935 mudou-se para o Rio de Janeiro. Após concluir o curso secundário, ingressou na Faculdade Nacional de Direito. Para manter-se, trabalhou como professora particular de português e depois como jornalista.
Sua estréia na literatura se deu com o romance Perto do Coração Selvagem, de 1944. Casou-se, em 1943, com o diplomata Maury Gurgel Valente, seu ex-colega de faculdade. O casal viveu fora do país, entre a Europa e os Estados Unidos, até 1959. Nesse ano Clarice se separou do marido e voltou a morar no Rio com os filhos, Pedro e Paulo.
Nos livros A Maçã no Escuro (1961), A Paixão Segundo G.H. (1964), Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres (1969) e A Hora da Estrela (1977) encontra-se seu estilo mais marcante, como o uso da metáfora insólita e uma narrativa intimista e psicológica. Morreu no Rio de Janeiro, em 9 de dezembro de 1977, um dia antes de completar 57 anos.
Clarice Lispector nasceu na cidade de Tchetchelnik, na Ucrânia, em 10 de dezembro de 1920. Veio para o Brasil recém-nascida, e sua família se estabeleceu em Maceió (AL) e depois no Recife (PE). Em 1935 mudou-se para o Rio de Janeiro. Após concluir o curso secundário, ingressou na Faculdade Nacional de Direito. Para manter-se, trabalhou como professora particular de português e depois como jornalista.
Sua estréia na literatura se deu com o romance Perto do Coração Selvagem, de 1944. Casou-se, em 1943, com o diplomata Maury Gurgel Valente, seu ex-colega de faculdade. O casal viveu fora do país, entre a Europa e os Estados Unidos, até 1959. Nesse ano Clarice se separou do marido e voltou a morar no Rio com os filhos, Pedro e Paulo.
Nos livros A Maçã no Escuro (1961), A Paixão Segundo G.H. (1964), Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres (1969) e A Hora da Estrela (1977) encontra-se seu estilo mais marcante, como o uso da metáfora insólita e uma narrativa intimista e psicológica. Morreu no Rio de Janeiro, em 9 de dezembro de 1977, um dia antes de completar 57 anos.
“A hora da estrela” – Resumo da obra de Clarice Lispector
Enredo 1
O narrador conta a história de Macabéa, jovem alagoana de 19 anos que vive no Rio de Janeiro. Órfã, mal se lembrava dos pais, que morreram quando ela era ainda criança. Foi criada por uma tia muito religiosa e moralista, cheia de superstições e tabus, os quais ela passou para a sobrinha.
Essa tia também tinha certo prazer mórbido em castigar Macabéa com cascudos na cabeça, muitas vezes sem motivo, além de privá-la de sua única paixão: a goiabada com queijo na sobremesa. Assim, depois de uma infância miserável, sem conforto nem amor, sem ter tido amigos nem animais de estimação, Macabéa vai para a cidade grande com a tia.
Apesar de ter estudado pouco e não saber escrever direito, Macabéa faz um curso de datilografia e consegue um emprego, no qual recebe menos que o salário mínimo. Após a morte da tia, deixa de ir à igreja e passa a repartir um quarto de pensão com quatro balconistas de uma loja popular.
Macabéa cheirava mal, pois raramente tomava banho. À noite, não dormia direito por causa da tosse persistente, da azia — em virtude do café frio que tomava antes de se deitar — e da fome, que ela disfarçava comendo pedacinhos de papel.
A moça tinha hábitos e manias que aliviavam um pouco a solidão e o vazio de sua existência. Entretinha-se ouvindo a Rádio Relógio num aparelho emprestado de uma das colegas. Essa emissora informava a hora certa, transmitia cultura inútil e propaganda, sem nenhuma música. A garota colecionava também anúncios de jornais e revistas, que colava num álbum. Certa vez, cobiçou um creme cosmético, que preferia comer em vez de passar na pele.
Era muito magra e pálida, pois não se alimentava direito. Basicamente vivia de cachorro-quente com Coca-Cola, que comia na hora do almoço, em pé, no balcão de uma lanchonete ou no escritório em que trabalhava. Não sabia o que era uma refeição quente. Seus luxos consistiam em pintar de vermelho as unhas, que roía depois, comprar uma rosa e, quando recebia o salário, ir ao cinema, o que a fazia desejar ser estrela de cinema, como Marilyn Monroe, seu grande sonho.
Certo dia, o chefe de Macabéa, Raimundo, cansado do péssimo trabalho que ela executava, com textos datilografados cheios de erros de ortografia e marcas de gordura, resolve despedi-la. A reação da garota, de se desculpar pelo aborrecimento causado, acaba desarmando Raimundo, que decide mantê-la por mais um tempo.
Num dia 7 de maio, Macabéa mente dizendo que arrancaria um dente e falta ao trabalho para poder aproveitar a liberdade da solidão e fazer algo diferente. Assim que as colegas saem para trabalhar, ela coloca uma música alta, dança, toma café solúvel e até mesmo se dá ao luxo de se entediar. É nesse dia que conhece Olímpico de Jesus, único namorado que teve.
Não foi um namoro convencional. Olímpico também havia migrado do Nordeste, onde matara um homem, fugindo para o Rio de Janeiro. Conseguira emprego numa metalúrgica, o que dá delírios de grandeza em Macabéa. Afinal, ambos tinham profissão: ela era datilógrafa e ele, metalúrgico.
Mau-caráter e ambicioso, Olímpico morava de favor no trabalho, roubava os colegas e almejava um dia ser deputado. O passeio dos namorados era sempre seguido de chuvas e de programas gratuitos, como sentar-se em bancos de praça para conversar. Nessas ocasiões, Olímpico se irritava com as perguntas que Macabéa fazia, o que a levava constantemente a se desculpar, pois não queria perdê-lo, apesar de seus maus-tratos.
Certo dia, admitindo que ela nunca lhe dava despesa, Olímpico decide pagar um cafezinho para Macabéa no bar da esquina. Avisa, porém, que se o café com leite fosse mais caro, ela pagaria a diferença. Macabéa, emocionada com a “bondade” do namorado, acaba enchendo o copo de açúcar para aproveitar, ficando enjoada depois. Em um passeio ao zoológico, Macabéa fica com tanto medo do rinoceronte que urina na roupa e tenta disfarçar para não desagradar ao namorado. Um dia, vendo que só o chefe e sua colega de escritório, Glória, recebiam telefonemas, Macabéa dá uma ficha telefônica para que Olímpico ligue para ela. Ele se recusa, dizendo que não queria ouvir as “bobagens” dela.
Até que, após conhecer Glória, Olímpico decide romper com Macabéa para ficar com a sua amiga. O rapaz considera a troca um progresso, já que elas eram opostas: Glória era loira (oxigenada), cheia de corpo, morava numa casa confortável, tinha três refeições por dia e, o mais importante, seu pai era açougueiro, profissão ambicionada por Olímpico.
Após esse episódio, Macabéa vai ao médico e descobre que tem tuberculose, mas não entende muito bem a gravidade da doença. Sente-se bem só por ter ido ao consultório e não acha necessário comprar o medicamento receitado. Com dor na consciência por ter roubado o namorado de Macabéa, Glória a convida para lanchar em sua casa. Macabéa, mais uma vez, aproveita a oportunidade e come demais. Apesar de passar mal, não vomita para não desperdiçar o luxo do chocolate, mas sente remorsos por ter roubado uma rosquinha.
Finalmente, aconselhada por Glória, Macabéa vai até uma cartomante para saber de sua sorte. Lá, é recebida pela própria, Madama Carlota, que impressiona a pobre moça pelo “requinte” de sua residência, repleta de plástico, e pela amabilidade afetada com que a trata. Após Madama Carlota contar sobre sua vida como prostituta e cafetina, lê as cartas para Macabéa, que, emocionada, pela primeira vez vislumbra um futuro e se permite ter esperança. Afinal, iria se casar com um estrangeiro rico, que daria todo o amor de que ela precisava.
Inebriada com as previsões da cartomante, Macabéa atravessa a rua sem olhar e é atropelada por uma Mercedes-Benz. Caída na calçada e sangrando, seu fim é testemunhado por inúmeros espectadores que se aglomeram em torno dela, sem que nenhum ofereça socorro. Por fim, a garota tosse sangue e morre. Havia chegado a hora da estrela.
Enredo 2
Começa quando o narrador, andando pela rua, capta o olhar de desespero de uma jovem nordestina no meio da multidão. A partir daí, nasce Macabéa, que representa a miséria inerente ao autor e a todas as pessoas. Em uma relação de amor e ódio, Rodrigo S.M. narra a vida dessa moça como tentativa de se livrar da sensação de mal-estar que ela representa e que o contagiava, ao mesmo tempo em que se apieda e se revolta, inclusive se sentindo culpado por viver num padrão mais elevado que a maioria da população marginalizada.
Dessa forma, intima o leitor a também se colocar no lugar do outro para experimentar essa miséria e perceber que, no fundo, ela faz parte de todos nós. Por isso, não basta denunciar as mazelas sociais, como a fase anterior do modernismo pregava, mas induzir o leitor a uma epifania, uma revelação, ainda que despertada pela náusea, como nesse caso.
Enredo 3
Nessa parte, Rodrigo S.M. discute a limitação da literatura diante da busca existencial. Também ironicamente condena os autores de estilo pretensamente original, que abusam de modismos, de adornos que descaracterizam o poder das palavras, bem como a obsessão pelo rigor formal, pela ortografia impecável.
Assim, há na obra diversos recursos metalinguísticos. Essas três narrativas se interligam, não sendo possível separá-las, pois o livro nem mesmo tem divisão por capítulos.
Lista de personagens
Rodrigo S.M.: é o narrador da história e pode ser entendido como uma representação da própria escritora. Ele faz ao longo do livro diversas reflexões sobre o ato de escrever. Sua principal preocupação é em mergulhar na profundidade do ser humano para entender sua natureza.
Macabéa: personagem principal da obra, é uma moça nordestina (alagoana) de 19 anos, pobre e desleixada. Não tem família e vive com um subemprego no Rio de Janeiro. Sua ignorância é tamanha que não reconhece nem sua própria infelicidade.
Olímpico de Jesus: é o primeiro e único namorado de Macabéa. Também nordestino, mas da Paraíba, não tem escrúpulos e é ambicioso.
Glória: filha do açougueiro e colega de trabalho de Macabéa. Apesar de não ser bonita, tinha certa sensualidade. Por conta disso, Olímpico deixa Macabéa para ficar com ela.
“A hora da estrela” – Análise da obra de Clarice Lispector
Miséria nossa de cada dia
Publicada pouco antes de sua morte, em 1977, “A Hora da Estrela” é a última obra de Clarice Lispector. Nesse livro, que tem como narrador Rodrigo S.M., alter ego da autora, há o retrato de uma jovem nordestina, Macabéa, que tenta sobreviver na cidade grande. A narrativa, complexa, é marcada pela presença dos conflitos existenciais da protagonista, bem como do próprio Rodrigo S.M.
Em “A Hora da Estrela”, ficam visíveis algumas das principais características dos autores da terceira fase modernista no Brasil (posteriores aos romances regionalistas), como a utilização de análise psicológica mais aprofundada dos personagens, que revela, por meio da narrativa interior, o fluxo de consciência e o intimismo. No plano formal, há a preocupação por uma linguagem mais elaborada, com a presença das digressões, o uso inusitado da pontuação, ou mesmo sua ausência, as metáforas e a metalinguagem.
Na Dedicatória, a autora deixa claro que se converterá em um ser fictício, Rodrigo S.M., como se fosse outra faceta de sua personalidade, o que não compromete a consciência de sua individualidade. Talvez Clarice tenha optado por se tornar um narrador masculino para poder ser mais agressiva e menos sentimental, o que caracterizaria uma ironia da autora em relação à condição da mulher na sociedade, vista normalmente como um ser frágil e piegas. Assim, por meio do recurso digressivo, a autora busca dialogar com o leitor, despertando nesse um papel mais ativo, que é o de compartilhar a culpa que ela sente e a responsabilidade que tem para com a injustiça social e a alienação simbolizadas por Macabéa.
A obra possui, também, uma peculiaridade: antes do início da narrativa, há, na primeira página, o título do livro, seguido de 13 outros títulos, inclusive um repetido, além da assinatura manuscrita de Clarice.
A estrutura da obra tem três grandes eixos narrativos e simultâneos, o que torna o enredo fragmentado e quebra a tradicional construção linear. A primeira narrativa tem Rodrigo S.M. relatando a história de Macabéa; a segunda mostra o narrador falando das próprias experiências e do drama existencial que vive; na terceira, vemos o próprio processo de construção da obra, o que caracteriza a metalinguagem.
Comentário do professor
Confira a seguir o comentário do prof. Marcílio B. Gomes Jr, da Oficina do Estudante de Campinas (SP):
A narrativa de “A hora da estrela” é uma interminável pergunta sobre a condição humana, ao longo de um enredo no qual se fundem histórias ou eixos distintos e complementares: ma vida de Macabéa, imigrante nordestina que vive desajustada no Rio de Janeiro; a história do autor do livro, identificado como Rodrigo S. M., sem propriamente um rosto definido, mas que interfere sistematicamente no enredo; e ainda a história do próprio ato de escrever. Nessa arquitetura instigante, Clarice Lispector articula três linhas de reflexão a respeito da existência e da arte: 1) filosófica, com a qual focaliza os limites do conhecimento do mundo, por meio da palavra; 2) social, com a qual investiga os impasses e os confrontos gerados pela incomunicabilidade entre os seres humanos; e 3) estética, com a qual investiga o ato da criação e sua importância na vida das pessoas. O narrador, Rodrigo S. M., é uma figura particularmente interessante, pois, assim como a personagem Macabéa, também está em busca de si mesmo, em busca de uma identidade; ao mesmo tempo em que se identifica com a realidade circundante, sente também estranhamento ao interagir com ela, oscila entre identificação e afastamento. A obra é digressiva, porque não segue uma narrativa linear; é metalinguística pela contínua reflexão sobre sua própria estrutura; apresenta 13 títulos que se referem aos estados de espírito do narrador e desmistificam o poder centralizador de um só.
O importante para os exames vestibulares é lançar um olhar atento ao estilo da autora, isto é, observar sua linguagem moderna, marcada de metáforas, de frases anômalas, de comparações e de associações inusitadas e surpreendentes que conduzem o leitor às profundezas do ser, isto é, o próprio fluxo de consciência, recurso muito explorado em seus livros. Outro componente decisivo da produção literária de Clarice Lispector é a epifania, o momento da iluminação, da tomada de consciência, em que a personagem é alçada a um altiplano no qual se torna capaz de vislumbrar aspectos nunca antes percebidos da existência e de si mesmo.
Fonte: http://guiadoestudante.abril.com.br/